O QUE FAÇO COMIGO?
Desafios
não são adversários.
Transformo-os emcontinentes que devo desbravar e conquistar.
Transformo-os emcontinentes que devo desbravar e conquistar.
Ora, se não posso imputar no outro minhas
agruras e se devo domar minhas más inclinações, devo, pois, reconciliar-me comigo
mesmo, quem sabe meu maior adversário. Para tal necessito conhecer-me melhor, a
partir da minha constituição mental e dos arquivos que trago que cultuo ou que
incomodam. Estamos vindo de um passado gigantesco onde paulatinamente
avançamos, num caminhar lento, progressivo e espetacular. Dormimos no mineral,
como disse Léon Denis. A questão 540 de “O Livro dos Espíritos” cita que:“(...)
É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo
primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo”. Virtuosamente viemos evoluindo passando depois pelo reino
vegetal sonhando com algo que nos tornasse coesos e prontos a vivermos com
consciência. Movimentamos, a seguir, pelo reino animal, desde os primeiros
instantes nos oceanos até a grandiosa marcha pelas montanhas, vales e reinos
outros que nos capacitaram ao despertamento quando chegamos ao homem.
Imaginamos aí a gama de arquivos que construímos ao longo desse período a
partir de um arquétipo primordial. André Luiz no livro: Evoluçãoem Dois Mundos,
encerrando o terceiro capítulo nos diz, após uma análise do tempo de viagem da
mônada divina pelos reinos atrás que: “Contudo, para alcançar a idade da razão,
com o título de homem, dotado de raciocínio e discernimento o ser, automatizado
em seus impulsos, na romagem para o reino angélico, despendeu para chegar aos
primórdios da época quartenária, em que a civilização elementar do sílex denúncia
algum primor de técnica, nada menos de um bilhão e meio de anos”. Agora, no homem, estamos nos construindo
para chegarmos à santidade - caminho natural. Assim sendo e com os apontamentos
espíritas que nos remetem ao Evangelho de Jesus necessitamos parar as correrias
para fazermos uma análise de nós próprios no tocante ao que já conseguimos de
bom e ao que necessitamos realizar para que nossas vivências sejam proveitosas
em termos de aprimoramentos ético-morais de conseqüências religiosas. Ideal
religião professada no íntimo de cada um de nós numa relação direta com o Pai.
Não raro encontramos nessas pesquisas
pessoais os complexos das culpas e dos medos. Segundo Joanna de Ângelis, ínsito
em seu livro “Conflitos Existenciais” no capítulo seis: “A culpa é o resultado da raiva que alguém
sente contra si mesmo, voltada para dentro, em forma de sensação de algo que
foi feito erradamente”. Ainda a própria mentora e no mesmo livro,
capítulo três diz: “A raiva é um
sentimento que se exterioriza toda vez que o ego sente-se ferido, liberando
esse abominável adversário que destrói a paz no indivíduo”. Aproveitando
o ensejo, citamos André Luiz que no livro: Entre a Terra e o Céu – cap. 23
anotou: “O sentimento de culpa é
sempre um colapso da consciência
e, através dele, sombrias forças se insinuam”. Raiva culpa e ego.
Sabemos que o ego representa um conjunto de idéias, vontades e pensamentos que
movem a pessoa e desenvolvem a sua perspectiva diante da sua própria vida. O
ego provoca aceitação e admiração própria. Isto, dentro das informações
correntes em vários compêndios principalmente da psicologia analítica. Joanna
de Angelis informa que o ego é o “Responsável pela diferenciação que o
indivíduo é capaz de realizar entre seus próprios processos internos e a
realidade”.Então a culpa por algum comportamento infeliz vai gerar
raiva e que afetará sobremodo o ego, gerando reações no campo individual de
relações consigo mesmo ou com outrem. Em contra partida e, por excelência,
existe a perspectiva de despertar o Self; ou seja: o Deus em si, o Eu interno.
Continuando nossas análises não fica difícil
concluir que os medos gerados pela culpa e pela raiva pode nos tornar seres
violentos e agressivos, tanto físico quanto verbal, motivados por inseguranças.
Inseguranças geram desproteções próprias e naqueles que estão à nossa volta.
Passamos assim a viver de forma incompleta, sempre observando as reações dos
outros a nosso respeito e nos defendendo, acuados, de adversários visíveis e
invisíveis, pessoas ou circunstâncias. Daí assomam as personas (máscaras) nas
quais nos escondemos temerosos de enfrentar os adversários criados e nem sempre
reais que vão surgindo à medida que não os combatemos. É sabido que nos é
cobrado segundo nossas possibilidades. Errar é do homem, persistir no erro é
atitude infantil.
Enquanto estamos aprendendo, experimentando,
aprimorando, o espírito vai se ajustando para viver dentro das Leis Naturais
instituídas por Deus. Quando passamos a repetir os erros dentro das lições já
aprendidas e consolidadas em nosso cognitivo, passamos a nos culpar por aquelas
ações. Exemplos disto são os destemperos da sexualidade, dos vícios da ingestão
de drogas alucinógenas, do álcool, tabaco, alimentos em demasia, falácias
infelizes, julgamentos a outrem e uma infinidade de atitudes incoerentes com o
homem espiritual que precisa despertar em si o Self. Não raro passamos a ser
manipulados por pessoas e situações que nos constrangem e constrangem a quem
nos quer bem. Chegados a este ponto, necessitamos repensar os efeitos danosos
de todo esse envolvimento psicológico infeliz que nos trazem aborrecimentos,
dificultando-nos uma marcha saudável e eficaz. Daí surge a questão dos
enfrentamentos.
Muito interessante quando lemos no livro:
“Triunfo Pessoal” da citada mentora, capítulo cinco: “A maturidade psicológica
induz o ser humano aos enfrentamentos sucessivos do seu processo de individuação”.
Segundo Jung “A individuação, é um
processo através do qual o ser humano evolui de um estado infantil de
identificação para um estado de maior diferenciação, o que implica uma
ampliação da consciência”. Importante quando nos colocamos como
observadores do nosso processo de libertação das idéias e posturas antigas,
transformando-as em hélices em movimento, auto aspirando-se para melhor nos
conduzir no processo da evolução. Antes, renascíamos, crescíamos, trabalhávamos
e desencarnávamos em sucessivas ocasiões, sem o conhecimento exato do que
aqueles eventos nos proporcionavam. Desta forma andávamos, ríamos,
trabalhávamos em algo e exaltávamos nossas personas e nos comprazíamos com suas
empedradas formações e consolidações. A individuação, contudo, ficava fora do
contexto ou, quando muito, era realizada de maneira lenta nem sempre
consciente. Agora, com as aberturas que “O Livro dos Espíritos” nos oferece,
vamos observar que a dinâmica da vida nos exige participação consciente. Na
questão 23 do referido livro somos informados que “O espírito é o princípio inteligente do universo”.
Quando pensamos em universo, algo superior aflora em nossas mentes e logo vem a
reflexão: o que é o universo, para que serve em nossas vidas? Por que os monges
orientais se ligam tanto a ele? E um fluxo imenso de pesquisas se apresenta a
nós dentro do nosso processo de crescimento pela individuação.
Para entendermos tudo isto que se nos oferece
por novos desafios é bom que enfrentemos todas as nossas imperfeições morais. É
bom que aprimoremos o caráter, sublimando os sentimentos. “Os enfrentamentos são campos
de luta, nos quais o ser cresce e desenvolve os inestimáveis recursos
adormecidos no Self, que se encontram à sua espera para oferecerem a
contribuição da paz do Nirvana”. Apontamentos de Joanna de Ângelis no livro “Triunfo Pessoal”.
Vemos, às vezes, pessoas estáticas perante suas culpas. O medo de enfrentá-las
faz com que o tempo passe e elas nunca saiam dos estados infelizes nos quais
estão projetadas. Vivem iludindo-se. Vivem perambulando em torno de si mesmas,
buscando ali e acolá o próximo momento satisfatório que as farão rir e se
divertir das suas risadas, para logo em seguida retornarem ao estado quase, se
não completo, de depressão pela imersão dos sentidos no vale escuro de cavernas
mentais. Éi-las, pois, amedrontadas. Segundo Victor Hugo, no livro Párias em
Redenção: “O medo é verdugo impiedoso
dos que lhes caem nas mãos. Produz vibrações especiais que geram sintonia com
outras faixas na mesma dimensão de onda, produzindo o intercâmbio infeliz de
forças deprimentes, congestionantes”. Daí, muitas vezes a pessoa agride
para se defender ou foge para não lutar. Sabemos que “o espírito não tem fim”, conforme consta na questão 83 do “Livro
dos Espíritos”. Viveremos infinitamente neste cômputo de inseguranças? Seria um
destronar do Projeto Divino que nos criou para vivermos com Deus, na glória
eterna da Luz.
Se ainda não fez, é hora de enfrentar seus
adversários, que não estão lá fora e sim dentro de cada um. É hora de reconciliar-se
com eles, como nos aconselha Jesus. O temor não é boa companhia de jornada. Os
cuidados sim. Estes o são. Desta forma devemos nos preparar para enfrentarmos
com galhardia e bom senso nossas culpas, medos e inseguranças. De acordo com
Joanna de Ângelis: “Faz-se necessária uma vinculação profunda
com o Self, que adquirirá maior conscientização dos relacionamentos
indispensáveis com o seu núcleo na psique”. Bom pesquisarmos nossas
companhias, aquelas para as quais abrimos sorridentes as portas das nossas casas
ou as visitamos contentes, trocando presentes e informações, brindando em
festas convulsas isto ou aquilo. A elas estamos também abrindo as portas dos
nossos corações e mentes, arquivando fatos que irão gerar reações. Que bom
preservamos nossos lares! Lembro-me que conheci uma pessoa que dizia existir em
sua cidade natal um menino que falava com Deus, na intimidade do seu quarto.
Todos riam de tal afirmativa. Um dia parei para pensar na validade daquela
história. Ora, se Deus está dentro de nós, se Seu Reino é semente plantada,
necessitando rega, como nos disse Jesus na Parábola do Semeador, então podemos,
dentro das nossas particularidades espirituais, conversar sim com o Pai. Ele
nos responderá de acordo com nossos entendimentos e, desta forma, estaremos nos
vinculando ao Self que nos dirá a melhor forma de proceder para sairmos
vencedores em nossas lutas, vencendo os vícios e entronizando as virtudes.
Fazendo silêncios para que eles possam nos aconselhar.
“O conteúdo religioso é de vital importância na
psicoterapia do enfrentamento. Conhecer a Verdade para, através dela,
libertar-se. Lutar contra as
paixões primitivas, transformando impulsos inferiores em emoções de harmonia: “Não
fugir, ocultar-se dos demais ampliando a mágoa contra a sociedade e contra si
próprio”. Além destas sábias orientações, Joanna de Ângelis
ainda nos informa que: “À medida que o ego se faz consciente dos
valores ínsitos no Self torna-se factível uma programação saudável para o
comportamento, trabalhando cada dificuldade, todo desafio, mediante a
reconciliação com sua realidade eterna”.
Agora podemos nos perguntar: O que faço
comigo? Vergasto-me ante adversários ou os transformo em continentes que devo
desbravar e conquistar? É bom que nos amemos, nos respeitemos. Que nos tornemos
unos com a Criação, pois somos partes integrantes de um todo de luz, portanto
somos luzes. É bom que enfrentemos com sensatez nossos limites, extendendo-os
com prazer sendo vitoriosos e por isso virtuosos. Nada de carregar o mundo nas
costas e sim caminharmos nele de olhos fixos nos céus das nossas consciências
superiores.
Sobre o autor:
Guaraci de Lima Silveira é membro da
Rede Amigo Espírita, natural de Oliveira Fortes, estado de Minas Gerais e
radicado em Juiz de Fora, também Minas, desde 1966. É escritor, poeta, autor de
peças teatrais espíritas, infantis e empresariais.
Retirado do
site http://www.redeamigoespirita.com.br/